O tempo não podia andar mais esquisito. Por aqui faz Sol e calor (sim, calor! Não são 30 graus mas o tempo é tão seco que parece!) e em Lisboa chove há muito tempo consecutivo. “Mais dois dias de chuva e frio e monto o presépio!” Está aqui qualquer coisa mal. O tempo por aqui convida a churrascos e a sonecas na relva e a desporto ao ar livre. Mas eu e o moço descobrimos que as coisas, por aqui, são mesmo levadas a sério no que ao estilo de vida outdoor diz respeito. Ora, o que apetece com este solinho bom? Coisinhas grelhadas e saladinha. Revirei os armários da nossa senhoria. Nada de grelhadores daqueles de grelhar coisas no fogão. Bem, já sei, vou comprar, não deve ser assim tão caro. ERRADO! A escolha em Oslo não é muita mas ainda existem umas cinco lojas, que eu conheça, claro está, de coisas para a casa tipo Polux ou Braz & Braz. Lá fui. Não havia. Mais outra e nada. Ora, eu tenho tido aulas de norueguês e já sei dizer e reconhecer alguns números e por isso não foi fácil disfarçar a minha cara de atum quando a senhora disse que o único que encontrei custava sju tusen kroner, que é como quem diz, sete mil coroas. Oi? Sete mil? Mas quê, já traz um ano de bifes? Lava a loiça? Massaja-me os pés no final? Mau. Bem, de cafézinho ranhoso na mão, desci a Karl Johan e tive outra ideia genial: “IKEA!!”. Fui ao site e descobri o dito: 149 kr. é mesmo isto O moço saiu do trabalho, apanhámos o autocarro e lá fomos nós. Ai que IKEA tão giro, ai que engraçado, as coisas são iguais às que há em Portugal, olha e vai ali o tipo vestido de amarelo e vou perguntar: “Hei, har du grillpanner?” “Nei.” Chateei-me. Como assim não? Mudei para inglês não fosse ter perguntado se tinham trolls vivos em exposição mas recebi a mesma resposta. Nei, só em Outubro. Perante a minha cara de pasmo, o rapaz de amarelo disse com o tom mais natural do Mundo: “Pois, é que agora é Verão.” Miguito, duas coisas: o Verão começa em Junho lá para vintes e isso não faz sentido nenhum. Amuei e viemos embora. Agora está solinho, o pessoal colocou os grelhadores a carvão ou a gás nas varandas e grelha ali a carnicha e o peixinho. Ou então nos parques. Não lembraria a ninguém – a não ser a mim e ao meu moço – grelhar coisas em casa. Humpf… Adiante.
Outro dos nossos objectivos, durante a nossa estadia em terras vikings, era, finalmente, aprendermos a nadar. Fomos à piscina aqui perto. Que não davam ali aulas tinha que ser onde Judas perdeu as botas. Fomos de metro até aí, tropeçámos nas botas de Judas e fomos brindados com outra curiosidade jeitosa. Estas coisas são, ao que tudo indica, bastante óbvias para os locais, a mim, tipa da Margem Sul, confesso, faz-me alguma confusão. Nop, nada de aulas de natação no Verão. Tanta água aí fora e vossemecê quer nadar aqui dentro? Oh, que tolice. Toma e embrulha. Manda-te ao Mar do Norte e aprende a nadar sozinha. Ou de braçadeiras do Nemo.
A vida outdoor é mesmo apreciada por aqui. E eu acho bem. Salvo quando se torna meio estranho ou desadequado. Eu explico. Eu e o moço tivemos o nosso primeiro contacto com a Polícia local enquanto gente preocupada com o próximo exactamente porque achamos que ele há coisas que são excessivas. Mas vai daí, se calhar, é só tolice nossa.
Edvard Munch é norueguês. Edvdard Munch está sepultado aqui. O meu moço gosta de passear em cemitérios. Eu não sou especial fã porque acho que ali cabem os que morrem e os que os lamentam. Mas há que reconhecer que são sempre sítios calmos, pacíficos e, regra geral, de alguma beleza. Por cá, o cemitério de Vår Frelsers tem montes de relva, banquinhos e a sepultura de Edvard Munch. As pessoas quedam-se por ali, a ler, a correr (?!), a passear o cão, a conversar e, como nós, a admirar os monumentos fúnebres. Ah e ainda há os que dormem. Pois. Vamos andando e atrás de uma sepultura estava um mocinho loirinho, todo amarfanhado, dormindo profundamente (devia estar exausto das aulas de natação outdoor no Mar do Norte) e com uns arranhões no braço. “Hey! Oh tu!! Hello!! ÓI!!” e ele nada. Outras pessoas passaram por ali e, aparentemente só nós achámos estranho. O ar é de todos e as pessoas dormem onde elas quiserem, ora cá estes, hein? Ralados com o moço e incapazes de o acordar fomos à esquadra mais próxima. E lá relatámos o que vimos e a senhora anotou tudinho, tendo depois pedido as coordenadas através do telefone do meu moço (antigamente a gente descrevia mais ou menos onde era e pronto. Há que haver rigor minha gente, precisão!), via Google Earth, ficou com o nosso nome e número e obrigadinha.
Diz que ia enviar lá uma ambulância. Mas eu acho que deve ter dito aquilo só para nos descansar. Afinal, até nem estava mau tempo e a relva ali era tão boa como em qualquer outro lado. Mania de português em meter-se em tudo o que não é chamado,